ALICE IN CHAINS: O FIM DE UMA ESPERA QUE PARECIA SER ETERNA

Tenho uma relação de amor e ódio com a chuva em dias de shows. Ela atrapalha, transforma o piso em lama, muitas vezes atrasa a apresentação. Mas por outro lado ela separa os meninos dos homens. Os entusiastas afastam-se, os fãs permanecem firmes e fortes. É como uma sentença divina separando o joio do trigo.

Alguns dos grandes shows que vi na vida tinham a chuva como pano de fundo. Na última segunda-feira foi assim mais uma vez. Não tem como odiá-la.

Fui ao SWU única e exclusivamente para ver uma das bandas que mais emplacou trilhas sonoras em minha vida. Ainda que houvesse uma série de outras enormes atrações que mereciam mais atenção de minha parte: Faith no More, Crystal Castles, Black Rebel Motorcycle Club, Ash. Acabei mesmo assistindo “apenas” Stone Temple Pilots e Alice in Chains, a segunda a razão de minha ida ao evento.

Evento que, diga-se de passagem, vende a conversa de sustentabilidade, arrebata um monte de gente nessa conversa mole, mas na prática deixa muito a desejar. Ações simples que nem precisam ser associadas a tal sustentabilidade, como meras lixeiras, eram artigos de luxo. Cem reais o estacionamento onde, caso seu carro tenha sido um dos tantos que atolaram devido a lama do local, mais cinqüenta dinheiros devem ter sido desembolsados para que os excelentíssimos funcionários pudessem tirar seu carro do buraco com a ajuda de um trator.

Nas proximidades havia estacionamentos cobrando “módicos” 25 reais. Além dos que como eu e minha trupe, optaram por alugar uma van para levar e trazer em segurança e tranqüilidade. Isso sim é sustentabilidade, que o diga minha conta corrente.

A cerveja de mesma marca variava de 5 a 8 reais dentro do mesmo evento. Como explicar? Fichas adquiridas em determinado ponto não valiam em outro lugar. Uma lástima!

Em organização o SWU tem muito, mas muito mesmo o que aprender com o Planeta Terra.

Pontos falhos e gritantes, que só não se tornaram os “destaques” do evento porque o line-up foi caprichado ao extremo. E as bandas colaboraram muito.

Muito já foi dito sobre todas as ótimas apresentações. A grande maioria elogiosa aos shows, ao público. Para não chover mais uma vez no mesmo molhado, até por que basta de tanta chuva, permito-me comentar apenas sobre o show da banda que me fez sair de São Paulo e ir até Paulínia.

Sim, foi o Alice in Chains o culpado por eu ter tomado toda aquela chuva. Foi só a partir do momento em que a banda confirmou presença que eu também confirmei a minha.

Infelizmente não tinha o ídolo Layne Staley, mas tinha Jerry Cantrell, também ídolo. Responsável pela composição de algumas das trilhas sonoras da adolescência até o fim dos dias desse eterno entusiasmado com seus artistas de cabeceira. Tinha Sean Kinney, Mike Inez e tinha um ótimo, carismático e corajoso William Duvall. Sim, corajoso.

Há de se ter muita coragem para substituir um ícone como Layne Staley , vocalista de uma das bandas com os fãs mais ardorosos da cena musical, sujeito de qualidades sempre evidenciadas, tido como uma das grandes vozes de todos os tempos.

Duvall não apenas tirou de letra a responsabilidade, como incorporou seu estilo ao atual layout da banda. Óbvio, não é Layne Staley. Diferente do estilo compenetrado e soturno do eterno ídolo, Duvall é mais inquieto, movimenta-se mais pelo palco. Merece e ganhou o respeito de quem ainda tinha alguns pés atrás com ele, onde me encaixo.

O repertório impecável surpreendeu até o mais esperançoso dos fãs. Do início arrasador com a sequencia das 3 primeiras faixas do espetacular álbum “Dirt” (Them Bones, Dam That River e Rain When I Die), o que se sucedeu foi um passeio justo e arrebatador por toda a obra do AIC.

Nem mesmo o momento dedicado aos sons do grandioso último álbum, “Black Gives Way To Blue”, fez o público perder o foco, pelo contrário. Sinal de que o trabalho de Duvall foi sim muito bem aceito pelos fãs.

Em “Nutshell”, além da surpresa pela presença do petardo (que abre a apresentação do AIC no mitológico acústico MTV de 1996), Jerry Cantrell trouxe consigo, na emoção de sua voz embargada, as presenças de Layne Staley e de Mike Starr (baixista original falecido em 2010), oferecendo a canção aos saudosos e inesquecíveis amigos.

A sequencia final com “Angry Chair”, “Man in The Box”, “Rooster”, “No Excuses” e “Would?” foi consagradora.

Uma banda que sempre conviveu ao lado das tragédias e que sobreviveu a todas elas merece muito mais do que meros aplausos. Merece reverência. Toda a minha.

18 anos após a passagem dos caras por aqui, todos os anos de uma espera que eu já imaginava ser eterna. Não estive no Hollywood Rock de 1993, mas estive no SWU de 2011. Situações diferentes proporcionadas por uma banda que está sim diferente em idade, em postura, em bagagem, mas que continua sendo o mesmo Alice in Chains grandioso de sempre.

Para o bem dos que tem bons ouvidos de ouvir, o Alice In Chains resiste ao tempo e sua vivência ainda é pungente.

Se você não esteve presente ao show do AIC, veja o que perdeu. Se você foi um dos felizardos, reveja o quão memorável foi:

Nutshell:

Would?

http://www.youtube.com/watch?v=E33fyWi6QK4

 

Cheers,

2 thoughts on “ALICE IN CHAINS: O FIM DE UMA ESPERA QUE PARECIA SER ETERNA”

  1. Sensacional, João! Gosto muito de Alice in Chains, mas acabei não me animando para ir ao SWU. Contudo, ler a sua resenha sobre a experiência do show dos caras, me deixou arrependido de não ter ido. Abração, meu caro!

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